O ano do Mox
É 19 de janeiro de 2022 e o terceiro episódio do AEW Dynamite do ano está sendo transmitido ao vivo, de Washington, DC. Ao som da versão da banda X de “Wild Thing”, Jon Moxley faz sua primeira aparição pública após pouco mais de dois meses em reabilitação para tratar seu alcoolismo.
Desinchado e com aparência mais saudável, Moxley entra no ringue sob aclamação da plateia. Uma voz dissonante ecoa pela Entertainment & Sports Arena. “Tirem este bêbado de merda daqui“, grita alguém, antes de ser xingado por Moxley e expulso do evento pela equipe de segurança. Em seguida, Moxley abriu o coração e deixou a plateia sem palavras com sua honestidade sobre sua vulnerabilidade e luta contra o vício. Foi o começo da jornada de Jon Moxley para se tornar o lutador mais importante da All Elite Wrestling (AEW) em 2022.
2022 foi um ano atribulado para a AEW. O dono e chefe criativo Tony Khan pareceu perder tanto o controle do vestiário quanto o “toque mágico” que lhe rendeu três prêmios seguidos de Promotor do Ano da Wrestling Observer Newsletter. Em 2022, a AEW esfriou criativamente e focou demais nos superfãs – o experimento de um pay-per-view conjunto com a New Japan Pro Wrestling (NJPW), por exemplo, confundiu o calendário da empresa e afastou fãs – além de perder relevância de volta para a WWE, renovada criativamente pela forçada aposentadoria escandalosa de Vince McMahon e nova administração de Triple H.
Além disso, uma série de lesões jogou diversos planos de Khan pelos ares. Kenny Omega, Bryan Danielson, Adam Cole, Christian Cage e Kyle O’Reilly acabaram afastados por problemas de saúde em diversos momentos durante o ano. Com três anos de AEW, os planos de longo prazo de Khan (como “Hangman” Adam Page conquistando o título mundial) precisaram ser renovados e imprevistos começaram a acontecer. Khan ficou vulnerável e finalmente começou a receber críticas mais duras sobre a qualidade de seus eventos e histórias. Até a insatisfação real e disputa contratual de MJF acabou se tornando parte da história.
Para piorar a situação, os bastidores da AEW explodiram em brigas e desavenças. Andrade, Eddie Kingston e Sammy Guevara foram alguns que lavaram roupa suja nas redes sociais e saíram no soco nos bastidores dos shows da AEW. O influxo de ex-lutadores da WWE começou a atazanar os originais da AEW. Tudo culminou com CM Punk expondo Omega, Page, Nick e Matt Jackson na coletiva de imprensa após o All Out, em setembro, os atacando como incompetentes, irresponsáveis e os acusando ativamente de tentarem sabotá-lo. Uma briga generalizada aconteceu após as declarações, resultando na suspensão dos envolvidos.
E no meio de todo este caos e incerteza, Jon Moxley segurou a AEW.
A história de retorno de Moxley foi contra Bryan Danielson. Enquanto o “American Dragon” sugeriu formar uma dupla com Moxley, este só aceitou se eles se enfrentassem antes. Os dois lutaram no Revolution, em março, em uma luta incrível. Após o combate, se uniram a William Regal para iniciar o Blackpool Combat Club (BCC), grupo com dois objetivos: destacar o estilo violento e técnico de seus membros e elevar novos talentos. E foi o que Mox fez.
No AEW Rampage de 8 de abril, Moxley transformou Wheeler Yuta em uma estrela. Em um excelente e sangrento combate de quase 13 minutos, Moxley elevou um jovem talento de um substituto no grupo Best Friends a um lutador a ser acompanhado. Como parte do BCC, Yuta derrotou Daniel Garcia pelo cinturão puro da Ring of Honor (ROH). No braço americano da NJPW, o NJPW STRONG, Moxley emprestou sua imagem para ajudar a construir seu ex-young boy, Shota Umino, como um desafiante crível para Jay White.
Shota has answered the challenge! #njriot pic.twitter.com/kaWaF2YlKX
— FITE (@FiteTV) April 17, 2022
Moxley também teria lutas violentas e memoráveis com Garcia, no Dynamite de 1 de junho, e com Kenosuke Takeshita na primeira noite do Fyter Fest, em 13 de julho. Os dois jovens lutadores, como Yuta, deixaram o ringue muito maiores do que entraram graças ao trabalho fabuloso de Jon Moxley.
A seriedade do BCC levou o grupo a uma óbvia rivalidade com a Jericho Appreciation Society (JAS), grupo liderado por Chris Jericho que prega o entretenimento como filosofia de luta. Desta celeuma, aconteceu no Double or Nothing a lendária luta Anarchy in the Arena, uma Blood and Guts no Dynamite de 29 de junho e um ótimo combate entre Moxley e Jericho em 10 de agosto.
No Forbidden Door, pay-per-view fruto da parceria entre a AEW e a NJPW, Moxley derrotou Hiroshi Tanahashi para se sagrar campeão interino. Após o campeão CM Punk lesionar o pé, Moxley segurou nos ombros a responsabilidade de ser o campeão da companhia. E o fez tão bem que foi oficializado como campeão em 24 de agosto ao derrotar Punk. Com a vitória, foi reconhecido como o primeiro lutador a conquistar o cinturão em duas ocasiões. Ele perderia o título para Punk 11 dias depois, no All Out, em outra luta de alta qualidade. No entanto, o caos se instauraria nos bastidores após o show.
A porrada entre Punk, Ace Steel e o trio da Elite – Omega e os Young Bucks – acabaria em uma investigação privada e suspensão dos envolvidos: coincidentemente, os principais nomes da companhia. Então, a AEW continuaria, mas sem seus principais lutadores. Provando ser uma peça indispensável e confiável no tabuleiro de Tony Khan, Moxley cancelou suas férias programadas pós-All Out e assumiu o posto de peça central da AEW, vencendo um torneio pelo título mundial vago e se tornando o primeiro lutador três vezes campeão mundial da AEW. Após ganhar o cinturão, Moxley resumiu a situação: “Esse título não me define. Ser um bom homem, um bom pai, ser um homem que as pessoas possam admirar; isso é o que me define. […] Sangue, suor, lágrimas, paixão. Eu não acho que este cinturão me define, mas eu defino este cinturão.“
A última rivalidade do ano de Moxley seria contra MJF, com a missão de elevar o popular vilão em um campeão crível. Os dois trocaram farpas e, no Full Gear, em novembro, Mox passou o cinturão para MJF, o coroando campeão de uma nova geração.
Nas avaliações do jornalista Dave Meltzer, do Wrestling Observer Newsletter, Mox teve 20 lutas avaliadas com mais de quatro estrelas em 2022. Envolvendo lutadores veteranos como CM Punk, Hiroshi Tanahashi e Chris Jericho, mas também lutadores independentes e mais jovens, dentro e fora da AEW, como Will Ospreay, Tom Lawlor, Daniel Garcia, Rush, Mance Warner e Kenosuke Takeshita. Segundo as avaliações dos fãs no site CageMatch, três das 10 melhores lutas da carreira de Moxley aconteceram em 2022 (a luta contra Ospreay na New Japan e contra Yuta na AEW em abril, e a Anarchy in the Arena em maio).
Em um ano de caos, incertezas e confusão, Moxley se firmou como uma rocha como parte essencial da AEW. Derrotou seus próprios demônios, entregou combates clássicos e momentos inesquecíveis enquanto deixava picuinhas e briguinhas para os outros lidarem. Foi o adulto dos bastidores e o ás na frente das câmeras. 2022 foi o ano de Jon Moxley.